A história contada pelo professor e escritor Humberto Luiz Lima de Oliveira, através do livro Crônicas de uma Infância no Sertão: Memórias de uma Família Brasileira, lançado pela Quarteto Editora em 2022, conta sobre a vida do escritor e de inúmeros brasileiros que lutaram contra a pobreza para vencer na vida. Em entrevista ao Conectado News, Humberto conta sobre sua trajetória e motivação para escrever o seu quarto livro, que para ele, é o mais especial de todos.
“Ter reconhecimento é a coisa mais importante na vida de um escritor, escrever um livro é como se você gestasse um filho, tenho dois filhos e quatro netos, esse é o primeiro romance, dos quatro livros que escrevi esse é o mais precioso, por que é fruto de toda a minha vivência”, disse.
Humberto relembrou a criação do pai, que contava histórias para ele e seus irmãos antes de dormir, um dos episódios da sua vida que relata no livro, segundo ele.
“Em uma casa com 6 filhos, meu pai nos criou contando histórias da família, e assim criei os meus, quando os colocava para dormir, contava histórias da família para eles. Entendo que isso seja muito importante para que eles conheçam as suas raízes e tenham orgulho das suas origens, e quando chegou a pandemia, me vi privado do convívio dos meus netos, não podendo mais contar histórias para eles, então me imaginei na roça, onde se passa o romance, e passei boa parte da minha infância, imaginei uma cena, em uma manhã de chuva, para evitar que eles gripassem e não pudessem montar a cavalo, eu os chamava a varanda para contar histórias da família e quando você conta histórias, nela existem outras micro histórias dentro da principal. Um exemplo disso é o romance “As Mil e Uma Noites”, e quando a chega à noite ela não encerra a estória, uma vai puxando a outra, e foi com medo de morrer, que escrevi esse romance, o romance da minha família, que sempre dizia que a minha vida daria um livro. A minha mãe foi uma das pessoas a dizer isso, mas não teve a oportunidade de escrever, eu escrevi por aqueles que não podem”, comentou.
O escritor detalhou sua infância difícil e o início da mudança em sua vida.
“Quando as pessoas dizem ter saudade do passado, elas não tem a compreensão real de como foi o passado no Brasil. Não possuía politicas afirmativas, era uma infância na roça, meu avô era um pequeno produtor rural, diferente do que muitos acham que era numa fazenda rodeado de empregados, não era assim. Passei grande parte da minha infância na roça, porque minha mãe, logo após me dar a luz, teve um problema de saúde, as pessoas pensavam que ela estava com Tuberculose e que tinha passado para o filho dela, eu sou o mais velho. Um dos meus tios nos levou para a fazenda do meu avô, que me recebeu como seu eu fosse um menino Jesus reencarnado. Quando se vive na zona rural, entende-se que você tem disponibilidade para trabalhar no campo, roçar, plantar milho, feijão e tirar leite. Eu sofria com problemas de garganta, por isso, não podia tomar chuva e sol, porém, desenvolvi a habilidade de ler rápido, meu avô me alfabetizou na roça. Quando cheguei em Feira de Santana, devido a minha habilidade de leitura, passei da 1ª para a 3ª série, pois tinha um nível de desenvolvimento maior do que os outros alunos. Disseram-me que eu era muito inteligente, aproveite esse menino. Mesmo com todas as dificuldades financeiras, éramos pobres ganhávamos um poucos mais de um salário mínimo, fui poupado do trabalho para estudar. Cheguei a morar na casa de pessoas que não eram ricas, mas eram menos pobres do que nós, morava de favor, e tinha essa responsabilidade, não podia esquecer que eu estava ali para estudar e ser alguém na vida. Com esse senso de responsabilidade, foi o que me levou a sair, trabalhando dois turnos, estudando a noite, contando com a ajuda dessas pessoas, que eram parentes menos pobres que nós, e graças a Deus, me tornei professor da universidade. Não foi só pelo esforço, porque ninguém consegue vencer na vida só com isso, mas precisa encontrar os apoios, ajuda necessária, e eu a encontrei”.
O escritor conclui detalhando sua caminhada até se tornar professor da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) e conhecer a mulher que se tornou mãe dos seus filhos.
“Primeiro, trabalhei como balconista em uma farmácia, depois, em Feira de Santana, fui office boy de um banco, em seguida, me tornei escriturário na casa comercial São Cosme, onde o dono me levou em Camaçari, para fazer um teste em uma multinacional. Fui aprovado, comecei a trabalhar em um escritório, onde conheci o amor da minha primeira mulher, mãe dos meus filhos, morreu em 2000 repentinamente, conheci também o valor da amizade, um amigo que me apresentou a essa mulher, era uma garota muito jovem na época, com seus 20 anos de idade. Esse amigo me ensinou a ler livros, a entender o que está por trás das palavras que estão sendo ditas. Logo depois, fui incentivado a fazer o vestibular, para Filosofia. Depois fiz Letras com Francês na UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), me tornei professor da Universidade, por tanto, sai de office boy a professor titular, desenvolvi programas de difusão da língua francesa, organização da imagem internacional da universidade, recebendo o título de Doutor Honoris Causa por uma instituição francesa, ou seja, sai de uma roça e me tornei professor de uma universidade pública”, concluiu.