Humberto Luiz Lima de Oliveira

Minha História

Filho de Humberto Perazzo de Oliveira e Nadira de Souza Lima, nasci numa manhã de muito frio, no dia 20 de agosto de 1951, na rua Paulo VI, no bairro Kalilândia, em Feira de Santana, chamada de Princesa do Sertão, mas que está numa encruzilhada entre o Sertão e o Mar.

 

Um problema de saúde repentino, – minha mãe teve crises de hemoptise e suspeitando de tuberculose, afastaram-me do seio materno e assim fui levado por tios e tias para a Fazenda Ipoeira, no distrito de Barra, no município de Mundo Novo, no piemonte da Chapada Diamantina, também um entre-lugar, pois constituído como microcllima encravado no semi árido.

 

Sob o olhar atento do avô Fernando, num rústico banco de madeira na varanda, ou de joelhos no outro banco que ladeava a grande mesa da sala de refeições, ali, naquela casa de roça, me alfabetizei. E encontrei em livros e revistas e jornais uma inesgotável fonte de leituras que viriam se constituir como meu primeiro aporte ao capital cultural e que, na solidão de menino em casa de adultos, seriam minhas companhias mais leais e sempre silenciosas.

 

Somente quando voltei para a cidade, reencontrando o convívio com os pais e irmãos, é que conheci a pobreza. Na roça, vivíamos a fartura sem riqueza, senhores da gleba não muito pequena que nos fazia se r “fazendeiros”, mesmo se nos sabíamos pequenos em relação aos latifundiários da região e mesmo de vizinhos endinheirados. Foi então que descobri que, mesmo naquele refúgio que era a fazenda, éramos “com eira, mas sem beira”.

 

Desde o momento em que constatei que viva num círculo fechado e pesado da pobreza, toda minha energia foi para encontrar os meios para, não apenas me libertar, mas também, libertar meu povo. O Universo, outro nome de Deus, conspirou a meu favor, sempre. Primeiro, ao me dotar de uma constante amigdalite, me livraria dos trabalhos ao ar livre, ou seja, a doença terminava sendo um benefício, pois decretava meu impedimento às rudes lides do campo, destino quase inevitável para os pouco remediados.

 

Depois, o fato de saber ler com desenvoltura e gostar de ler, de estar sempre com um texto frente aos olhos, – o que era também decorrente da impossibilidade de viver sob a chuva e o sol inclemente do Sertão- fizeram também com que sobre mim se pousassem os olhares e me identificassem como dotado de uma inteligência acima da média: e acenaram para um destino que me avô decretou: “vai para a cidade, estudar pra ser gente na vida, seu Batuta!”

 

Nas escolas, o desempenho na leitura e a obediência quase cega às normas de convívio social fizeram com que as professoras não poupassem elogios aos meus pais e lhes incentivassem a “aproveitar este menino, tão inteligente”! Estava assim se cumprindo os primeiros esboços do desejo do coração, um debuxo de um destino que já se anunciava, e que iria apenas necessitar de intercessores para se realizar.

 

Ser professor ou professora é se colocar como intercessor: antevê na inconsciência do estudante um futuro que necessita apenas ser polido ou ativado, como um debuxo, um rascunho apenas esboçado. Cada elogio que recebia eu traduzia como uma responsabilidade e um impulso que me davam para seguir sendo quem eu era, sem me perder do caminho.
Hoje, percebo que, até mesmo quem eu pensei estar sendo rude, pode ter sido apenas um anjo da guarda que me afastou dos desvios do meu caminho. É que antes, na tradição da educação conservadora cristã, os anjos da guarda eram apenas criancinhas louras de olhos azuis e cabelos cacheados!


Um dos mais claros exemplos foi quando no meu último emprego em Feira de Santana, o patrão, chateado porque eu havia instruído os carroceiros que faziam entregas a revindicarem o pagamento de horas extras, ele me despediria não sem antes articular com uma amiga a seleção numa vaga em uma indústria em Camaçari. Onde eu passaria a ganhar o dobro e teria oportunidade para fazer o ensino superior, logo depois. E onde eu encontrei Célia, minha primeira mulher, apresentada por aquele que viria a ser nosso padrinho espiritual de casamento, Genildo Batista da Silva, um amigo-irmão que me franquearia sua mesa e sua casa para meu abrigo.

Minha História

Filho de Humberto Perazzo de Oliveira e Nadira de Souza Lima, nasci numa manhã de muito frio, no dia 20 de agosto de 1951, na rua Paulo VI, no bairro Kalilândia, em Feira de Santana, chamada de Princesa do Sertão, mas que está numa encruzilhada entre o Sertão e o Mar.

 

Um problema de saúde repentino, – minha mãe teve crises de hemoptise e suspeitando de tuberculose, afastaram-me do seio materno e assim fui levado por tios e tias para a Fazenda Ipoeira, no distrito de Barra, no município de Mundo Novo, no piemonte da Chapada Diamantina, também um entre-lugar, pois constituído como microcllima encravado no semi árido.

 

Sob o olhar atento do avô Fernando, num rústico banco de madeira na varanda, ou de joelhos no outro banco que ladeava a grande mesa da sala de refeições, ali, naquela casa de roça, me alfabetizei. E encontrei em livros e revistas e jornais uma inesgotável fonte de leituras que viriam se constituir como meu primeiro aporte ao capital cultural e que, na solidão de menino em casa de adultos, seriam minhas companhias mais leais e sempre silenciosas.

 

Somente quando voltei para a cidade, reencontrando o convívio com os pais e irmãos, é que conheci a pobreza. Na roça, vivíamos a fartura sem riqueza, senhores da gleba não muito pequena que nos fazia se r “fazendeiros”, mesmo se nos sabíamos pequenos em relação aos latifundiários da região e mesmo de vizinhos endinheirados. Foi então que descobri que, mesmo naquele refúgio que era a fazenda, éramos “com eira, mas sem beira”.

 

Desde o momento em que constatei que viva num círculo fechado e pesado da pobreza, toda minha energia foi para encontrar os meios para, não apenas me libertar, mas também, libertar meu povo. O Universo, outro nome de Deus, conspirou a meu favor, sempre. Primeiro, ao me dotar de uma constante amigdalite, me livraria dos trabalhos ao ar livre, ou seja, a doença terminava sendo um benefício, pois decretava meu impedimento às rudes lides do campo, destino quase inevitável para os pouco remediados.

 

Depois, o fato de saber ler com desenvoltura e gostar de ler, de estar sempre com um texto frente aos olhos, – o que era também decorrente da impossibilidade de viver sob a chuva e o sol inclemente do Sertão- fizeram também com que sobre mim se pousassem os olhares e me identificassem como dotado de uma inteligência acima da média: e acenaram para um destino que me avô decretou: “vai para a cidade, estudar pra ser gente na vida, seu Batuta!”

 

Nas escolas, o desempenho na leitura e a obediência quase cega às normas de convívio social fizeram com que as professoras não poupassem elogios aos meus pais e lhes incentivassem a “aproveitar este menino, tão inteligente”! Estava assim se cumprindo os primeiros esboços do desejo do coração, um debuxo de um destino que já se anunciava, e que iria apenas necessitar de intercessores para se realizar.

 

Ser professor ou professora é se colocar como intercessor: antevê na inconsciência do estudante um futuro que necessita apenas ser polido ou ativado, como um debuxo, um rascunho apenas esboçado. Cada elogio que recebia eu traduzia como uma responsabilidade e um impulso que me davam para seguir sendo quem eu era, sem me perder do caminho.
Hoje, percebo que, até mesmo quem eu pensei estar sendo rude, pode ter sido apenas um anjo da guarda que me afastou dos desvios do meu caminho. É que antes, na tradição da educação conservadora cristã, os anjos da guarda eram apenas criancinhas louras de olhos azuis e cabelos cacheados!


Um dos mais claros exemplos foi quando no meu último emprego em Feira de Santana, o patrão, chateado porque eu havia instruído os carroceiros que faziam entregas a revindicarem o pagamento de horas extras, ele me despediria não sem antes articular com uma amiga a seleção numa vaga em uma indústria em Camaçari. Onde eu passaria a ganhar o dobro e teria oportunidade para fazer o ensino superior, logo depois. E onde eu encontrei Célia, minha primeira mulher, apresentada por aquele que viria a ser nosso padrinho espiritual de casamento, Genildo Batista da Silva, um amigo-irmão que me franquearia sua mesa e sua casa para meu abrigo.

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