Crônicas de uma infância no sertão: memórias de uma família brasileira é autoficção em discurso narrativo, original e lírico. O autor Humberto Luiz Lima de Oliveira, em foco singular, é avô-personagem que, invocando netos, os faz ouvintes da sua história. Nesse contar, retomando o passado, trata da cultura e das vivências no sertão da Bahia.
Captando o interesse da meninada (personagens-ouvintes), conta aventuras e, relembrando momentos, diz: “… em tudo deve haver aprendizado. É só saber ver” p. 20.
Vez por outra, ao longo do relato, a interrupção dos ouvintes traz o leitor ao presente narrativo: “Por isso minha avó Anna…Quem? A mãe do meu pai…” p. 23. Costumes relatados evidenciam as diferentes épocas; afirmações filosóficas e existenciais, promovem reflexões: “A morte é parte da vida.” p. 37
Vez por outra, esse avô-narrador faz links temporais narrativos que dão dinamicidade ao relato: “Mas voltemos ao acontecimento. Onde eu estava? Ah, sim!” p. 38 Ou: “se lembra do biso Brau, lá no apartamento?”p.39
Para atrair os seus ouvintes especiais, o narrador-avô vai buscando outros temas alegres, curiosos, divertidos, históricos… e, dessa forma, também relatando a história da região, dos hábitos, vai ensinando, linkando passado com presente : “Assim, todo dia era dia de colher tudo que no campo pode ter, tudo que na terra se pode plantar […] Por falar nisso, amanhã cedo vamos até a horta buscar legumes e verduras, cada um leva um cesto…” p.45. Para o leitor, o autor oferece, ao final do livro, receitas da culinária típica.
Assim, de lembrança em lembrança, a narrativa é construída e, simultaneamente, uma educação ambiental, sabidamente, subjaz … Os dez capítulos do livro assim transcorrem, para a narrativa culminar com a valorização e importância da educação. O último relato é incentivo aos netos para os estudos, que é forma de independência.
Engenhosa narrativa! Parabéns ao autor.
Em fevereiro de 2025
Teca Simões.